BIBLIOTECAS NA FICÇÃO: A BIBLIOTECA PÚBLICA DOS CABEÇAS-OCAS

por Alexandre Xavier Lima

 

O que fazer no dia do aniversário? Ficar em casa? Fazer um piquenique no parque? Dar uma festa em um salão? Viajar? Nada disso. A sugestão é passar o dia do aniversário em uma biblioteca, assim como fez o personagem Soluço Spantosicus Strondus III da série “Como treinar seu Dragão” em “Guia do Herói para vencer dragões mortais”, escrito por Cressida Cowell. Nossa intenção é apresentar algumas orientações para que essa experiência inusitada seja bem proveitosa. Tomaremos como exemplo a experiência de Soluço na Biblioteca Pública dos Cabeças-ocas.

1 - Certifique-se de conhecer as dependências da biblioteca.

A biblioteca visitada pelo personagem Soluço era um castelo “de tamanho e aspecto assustadores, que se esparramava como um monstro negro e feio no topo de um penhasco assolado pelos gritos das gaivotas, na pequena ilha Esqueça-me” (p. 29). Um olhar pela vidraça do lado de fora dava impressão de ser um imenso labirinto. Por isso, era imprescindível andar com Mosca da Tempestade (dragão do tipo temperamental), pois não se perde pelos corredores (p. 81). O piso dispõe de Larvas-de-coceiras, que funcionam como um sensor no piso. Já as paredes são cobertas por livros: “Milhares e milhares de estantes estendiam-se do chão ao teto, iluminadas apenas pela luz fraca de Vermes Brilhantes que agarravam às paredes e por um leve brilho escarlate emitido pelas Larvas-de-coceiras, que se retorciam” (p. 92). O eco na biblioteca dava impressão de que tinha vida própria e ria. Para o aniversariante ficcional, a biblioteca parecia “uma pobre e negligenciada Criatura extinta, que ninguém lembrava que tinha morrido, esquecida em um canto, e que estava aos poucos se decompondo” (p. 92).

2 - Explore as possibilidades do acervo.

O “viveiro de livros” possuía milhares de títulos. “Havia livros grossos, livros finos, volumes e mais volumes caindo aos pedaços da Enciclopédia Bárbara...” (p. 95). Havia livros de variados assuntos, como esgrima, manuseio de machado, diferentes tipos de dragões e livros de mapas (p. 189). Dentre as possibilidades de leitura, destacam-se “Dragões Vikings e seus ovos”, “Dragões das profundezas geladas” e “Dragões do norte congelante”. Nossa indicação é o “Guia do herói para vencer dragões mortais” de Soluço Spantosicus Strondus II, antepassado de nosso herói, que acreditava na possibilidade de encontrar respostas para tudo simplesmente ficando tempo suficiente naquele acervo. Vale dizer que, ao descobrir um autor que admiramos (no caso de Soluço um antepassado), é como se sentir menos solitário no mundo (p. 194).

3 - Conheça as normas da biblioteca.

Infelizmente a Biblioteca dos Cabeças-ocas não era aberta ao público. Os livros eram uma ameaça ao estilo de vida Viking: “era o tempo dos Vikings, quando os livros eram considerados uma influência civilizadora extremamente perigosa” (p. 29) – qualquer semelhança com a realidade talvez não seja tão coincidência. O único livro permitido era “Como treinar o seu dragão” de Tosco Traste – livro que Stoico, pai de Soluço, procurava para vencer uma aposta, mas fora destruído por Banguela, o dragão de Soluço. É justamente essa a motivação para ir à “Biblioteca da Morte”, onde os livros eram apenas recolhidos e trancafiados em suas dependências. Portanto, o acesso dependia de convite. Além disso, era estritamente proibido retirar livros e fazer barulho. Essa última regra devia-se à presença dos dragões-brocas que guardavam o lugar.

4 - Colabore para a preservação do lugar.

Você já parou para pensar em como colaborar para a biblioteca que frequenta? Coisas simples podem ser feitas, como cuidar bem dos livros que manuseia, manter o local limpo, devolver os livros retirados por empréstimo, doar livros (se for possível) e divulgar a prática de leitura. Na ficção, Soluço busca libertar a biblioteca dos Cabeças-ocas. Nesse caso, teria a vantagem de devolver a biblioteca ao público. “Talvez os livros não fossem tão perigosos quanto pareciam, e talvez eles pudessem mesmo ser úteis às Tribos Vikings” (p. 190), aos brasileiros e a tantos outros povos de culturas e de tempos diferentes.

5 - Desenvolva novos conteúdos. 

Já pensou encontrar um livro seu em uma biblioteca? Soluço reescreveu o livro “Guia do herói para vencer dragões mortais” e acrescentou um dicionário de dragonês - “Quem sabe você não o tenha tomado emprestado em uma Biblioteca”? (P. 200). Escrever um livro é um ato de amor ao próximo, capaz de salvar vidas. O próprio Soluço avalia que teria morrido na Biblioteca se não fosse a informação. O livro é essencial para a nossa civilização. Como afirma o personagem “Eles podem salvar nossas vidas, podem sim...” (p. 190).

 

Fonte da imagem: acervo pessoal de Alexandre.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RESENHA DO CONTO “O MENDIGO SEXTA-FEIRA JOGANDO NO MUNDIAL”, DE MIA COUTO

O Leão, Vinícius de Moraes

I Seminário JORNAL NA E DA ESCOLA: práticas de alunos e professores