O Leão, Vinícius de Moraes

  


O LEÃO

(Inspirado em William Blake)


Leão! Leão! Leão!

Rugindo como o trovão

Deu um pulo, e era uma vez

Um cabritinho montês.


Leão! Leão! Leão!

És o rei da criação


Tua goela é uma fornalha

Teu salto, uma labareda

Tua garra, uma navalha

Cortando a presa na queda.


Leão longe, leão perto

Nas areias do deserto. 

Leão alto, sobranceiro

Junto do despenhadeiro.

Leão na caça diurna

Saindo a correr da furna.

Leão! Leão! Leão!

Foi Deus que te fez ou não?


O salto do tigre é rápido

Como o raio; mas não há

Tigre no mundo que escape

Do salto que o Leão dá.

Não conheço quem defronte

O feroz rinoceronte.

Pois bem, se ele vê o Leão

Foge como um furacão.


Leão se esgueirando, à espera

Da passagem de outra fera...

Vem o tigre; como um dardo

Cai-lhe em cima o leopardo

seE enquanto brigam, tranquilo

O leão fica olhando aquilo.

Quando se cansam, o leão

Mata um com cada mão.


Leão! Leão! Leão! 

És o rei da criação!

 

(MORAES, Vinicius. Arca de Noé. Rio de Janeiro, 1970. Disponível em: <http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/arca-de-noe>.)

 

Fonte da imagem: <https://pixabay.com/pt/vectors/le%C3%A3o-brown-amarela-animal-selvagem-303699/>.

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