Natal, Vinícius de Moraes

 


NATAL

 

De repente o sol raiou 

E o galo cocoricou: 

 

- Cristo nasceu! 

 

O boi, no campo perdido 

Soltou um longo mugido: 

 

- Aonde? Aonde? 

 

Com seu balido tremido 

Ligeiro diz o cordeiro: 

 

- Em Belém! Em Belém! 

 

Eis senão quando, num zurro 

Se ouve a risada do burro: 

 

- Foi sim que eu estava lá! 

 

E o papagaio que é gira 

Pôs-se a falar: - É mentira! 

 

Os bichos de pena, em bando 

Reclamaram protestando. 

 

O pombal todo arrulhava: 

- Cruz credo! Cruz credo! 

 

Brava 

A arara a gritar começa: 

 

- Mentira? Arara. Ora essa! 

- Cristo nasceu! - canta o galo. 

- Aonde? - pergunta o boi. 

- Num estábulo! - o cavalo 

Contente rincha onde foi. 

 

Bale o cordeiro também: 

 

- Em Belém! Mé! Em Belém 

 

E os bichos todos pegaram 

O papagaio caturra 

E de raiva lhe aplicaram 

Uma grandíssima surra.

 

(MORAES, Vinicius. Arca de Noé. Rio de Janeiro, 1970. Disponível em: <http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/arca-de-noe>.)

 

Fonte da imagem: <https://pxhere.com/pt/photo/1454961>.

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