BIBLIOTECAS NA FICÇÃO: Biblioteca de Nova Iorque (Um dia depois de amanhã)



por Alexandre Xavier Lima

 

Volta e meia Hollywood apresenta um filme sobre catástrofes naturais que alcança grande sucesso. Um exemplo é o filme O Dia Depois de Amanhã (2004), dirigido por Roland Emmerich, com mais de 500 milhões de dólares em arrecadação. O longa defende a tese de que é impossível consumir os recursos da natureza, de forma desenfreada, sem que haja consequências. Nessa narrativa, o aquecimento global desencadeou uma grande tempestade no hemisfério norte, comparada a mudança climática da última era glacial. As teorias do climatologista Jack Hall (Dennis Quaid) começam a se confirmar e a única coisa a fazer é se proteger dos eventos catastróficos, justamente quando seu filho Sam (Jake Gyllenhaal) vai participar de um concurso em Nova Iorque, Manhattan, e se vê obrigado a se refugiar em uma biblioteca pública. 

Essa é a nossa deixa para falar da Biblioteca de Nova Iorque, fundada em 1895 e localizada no Bryant Park. Os dois leões que decoram a entrada, Fortitude (do latim, bravura) e Patience (paciência), simbolicamente protegem o acervo que conta com mais de 55 milhões de livros. Destacam-se na arquitetura interna seus imponentes portais e janelas arredondados. As muitas salas indicam a existência de setorização de informação, geralmente em conformidade com o tipo de material guardado. O pesquisador pode fazer uso de uma seção específica, como Cartografia, Obras Raras, Periódicos ou Manuscritos. A maior parte dos usuários, porém, utiliza o Acervo Geral, um grande salão de estudos, com mesas ao centro e muitas estantes de livros ao fundo. 

No filme, o grande hall de entrada aparece submerso pelas águas. Para não morrer congelados, Sam e seus amigos começam a pegar livros para alimentar a lareira. Nesse momento, o filme nos faz lembrar dos grandes acervos que desapareceram por conta de desastres naturais e nos propõe um debate sobre as obras que merecem ser protegidas para a posteridade. Você já parou para pensar qual livro salvaria? Um dos personagens refugiados na biblioteca ilustra esse debate, ao reconhecer uma obra de Nietzsche e o sua importância para a filosofia. No entanto, para outra personagem, o filósofo era apenas um chauvinista. A discussão segue até que outro personagem indica a seção de livros fiscais, uma opção que todos concordaram, tendo em vista o caráter temporário do conteúdo desses livros.

A bibliotecária recorda-nos sobre a verdadeira função dos livros, para além de combustível à disposição dos sobreviventes. Ela consulta uma espécie de enciclopédia médica para conseguir diagnosticar o problema de saúde da amiga de Sam, Laura (Emmy Rossum). Isso nos faz pensar quantas vezes um bom livro salvou a vida de uma pessoa, física ou espiritualmente.

Por fim, o personagem que seleciona livros aparece novamente. Dessa vez com um grande volume em seus braços, retirado da sala dos Livros Raros. Trata-se de uma Bíblia de Gutemberg. Johannes Gutemberg é considerado o inventor da imprensa de tipos móveis. Hoje em dia sabe-se que o protótipo de Gutemberg não foi o único. Os chineses já desenvolviam a mesma tecnologia e na Europa também havia oficinas com experimentos semelhantes. Contudo, foi o modelo de Gutemberg que impactou a sociedade ocidental. 

Questionado sobre a crença de salvação, o personagem selecionador disse que não acreditava em Deus. Estava apenas protegendo o primeiro livro impresso, um símbolo da era da razão. Enquanto diz essas palavras, a imagem é direcionada para a fogueira. Sutilmente, somos levados a outros eventos em que os livros foram sucumbidos ou precisaram ser protegidos. Para o personagem, a palavra escrita é a maior conquista da humanidade. Se a civilização chegou ao final, pretende salvar um pedacinho dela. Por trás desses pedaços de papel, não está apenas uma tecnologia. Está um pedacinho da nossa capacidade de pensar e compartilhar ideias.

 

Fonte da imagem: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Biblioteca_Publica_de_New_York_-_USA_-_panoramio.jpg

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