RESENHA DO CONTO “O MENDIGO SEXTA-FEIRA JOGANDO NO MUNDIAL”, DE MIA COUTO
por Francisco José Brasil Alves
Em linhas gerais, trata-se de um conto que retrata a situação de um sujeito que vive à margem da sociedade, andando pelas ruas, carregando consigo apenas a miséria e a vontade de ser visto e de ter suas dores reconhecidas pelas pessoas. Um indivíduo a quem ninguém dá atenção, que não possui um lugar seguro para morar, uma família para o acolher e que tem o hábito de ir ao hospital frequentemente, com dores inventadas apenas para sentir que alguma outra pessoa o ouça e cuide dele de alguma forma.
Nesse conto, apenas o personagem “Sexta-Feira” fala muito sobre como se sente, fala das questões problemáticas de sua vida à margem da sociedade, fala para ser notado, para que entendam que ele existe. Em um momento do conto, notamos que aquele homem, sem lugar, nesse mundo tão imenso, vai assistir ao jogo de futebol em uma vitrine de loja juntamente com outros marginalizados como ele, e o dono da loja, que não quer ver pobres por perto, manda lavar a rua e tirar aqueles “dejetos” dali.
Sexta-Feira, apesar de não ser valorizado como pessoa, apesar de não ter lugar nessa forma de organização do mundo, entende que ele pode estar na rua, que a rua é pública. De certa forma, ele aponta que o mundo deveria ser a casa de todos, que a ecologia deveria ser um espaço onde as pessoas, as coisas, o meio ambiente, as árvores, os animais, os outros homens, devessem partilhar, e não só aqueles que têm dinheiro de sobra.
Sexta-Feira assiste ao jogo da Copa do Mundo ao lado de outros tão iguais na marginalidade quanto ele, é onde ele se sente acolhido com seus iguais. Mas no mundo onde o que vale mais é o dinheiro, ele é expulso “do jogo da vida”, é espancado a mando do dono da loja por policiais que, em geral, existem para proteger os donos de loja.
Durante o conto Sexta-Feira tem sua vida real misturada com a fantasia, mas uma fantasia muito melancólica onde ele se vê sozinho, à margem e com suas dores ignoradas. Até o médico que cuida dele, em dado momento de sua fantasia enquanto era espancado, aparece como alguém que não cuida dele, que o expulsa do jogo e, também, o agride. É um conto de solidão, marginalização e abandono, um conto de gente silenciada e invisibilizada.
Um conto que aponta o desequilíbrio social e ambiental. Afinal, o mundo deveria ser a casa de todos nós, sem exceção. É um conto que fala de mundos marginalizados, que um escritor africano tão bem conhece.
Referência do livro: O fio das missangas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
Fonte da imagem:<https://pixabay.com/pt/photos/morador-de-rua-dormir-homem-2330393/>.
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