BIBLIOTECAS NA FICÇÃO: INDIANA JONES E A ÚLTIMA CRUZADA
Uma combinação de inteligência, heroísmo e humor tornou o personagem Indiana Jones um dos mais queridos do cinema. Além da carismática atuação de Harrison Ford, a franquia contou com a parceria de George Lucas e Steven Spielberg no roteiro, direção e produção. Indiana Jones é um arqueólogo, que divide seu tempo entre atividade acadêmica e pesquisa de campo. Segundo o personagem, 70% de toda arqueologia são realizadas na biblioteca, com pesquisa. No entanto, a narrativa concentra-se em suas aventuras. O personagem vê-se impelido a recuperar artefatos para os acervos públicos.
Na terceira aventura, Indiana Jones e a Última Cruzada (1989), o personagem é convencido a localizar o Santo Graal, como forma de reencontrar seu pai, que desaparecera quando buscava tal relíquia justamente em uma biblioteca em Veneza.
Na placa da frente da construção, lê-se “Biblioteca de S. Barnabas”. Na ficção, esse templo teria sido erguido com os despojos da guerra contra Bizâncio, por religiosos que retornaram das Cruzadas. Na vida real, o prédio é a igreja de “San Barnabas”. Por dentro é uma igreja típica do século XVII, nada lembrando a produção hollywoodiana. Na ficção, no interior do templo, vê-se as imponentes colunas, com leões em suas extremidades, as prateleiras e escadas em madeira de lei e, é claro, livros em clássicas capas duras.
Na cena da biblioteca, somos convidados a reconhecer que tudo é leitura, até mesmo os vitrais são passíveis de múltiplas interpretações. Para o amante da arte religiosa, representa a missão santa de um cavaleiro, sob a proteção de Deus, Jesus Cristo e Santa Maria. No entanto, para o arqueólogo, é uma pista quanto à localização da cripta do último cavaleiro. Jones percebe que seu pai não fazia uma busca tradicional na biblioteca, isto é, não procurava o livro do cavaleiro, mas a sua tumba.
A constatação de que seu pai não estava atrás de um livro, surpreende Indiana Jones, pois considerava seu pai um acadêmico, um rato de biblioteca que não fazia pesquisa de campo. A biblioteca pode não ser o campo de investigação para a maioria dos arqueólogos. Contudo, muitos estudiosos fazem desse espaço sua principal fonte de estudo. É o que acontece com especialistas em codicologia e paleografia. Na primeira disciplina, estuda-se o códice, antepassado do livro; na segunda, as escritas antigas. Em ambos os casos, a biblioteca é o principal local de pesquisa de campo, onde realizam incríveis descobertas sobre o nosso passado. Algumas leituras exigem uma especialização do leitor a fim de decodificar a escrita e de contextualizar o seu conteúdo, às vezes, muito distantes da nossa realidade. É o que os personagens fazem ao ler as pilastras no subsolo da biblioteca e, principalmente, o escudo do último cavaleiro das Cruzadas.
Todas essas pistas (vitrais, escudos e pilastras) dependem das informações que se tem sobre o Santo Graal nos livros. Na lenda, José de Arimateia teria guardado o cálice da última ceia. Essa lenda teria se popularizado através dos romances de Chrétien Troyen, entre os séculos XII e XIII, com o personagem Perceval, impelido a recuperar o cálice. A lenda ganhou nova projeção no ciclo de histórias dos Cavaleiros da Távola Redonda. Nessas narrativas, o cavaleiro medieval busca pelo Santo Graal como maneira de alcançar a perfeição.
Duas cenas merecem destaque. A primeira é quando os personagens retornam a Berlim e testemunham uma queima de livros em praça pública. Mais adiante na narrativa o pai de Jones vai dizer ao nazista que deveria ler os livros no lugar de queimá-los como explicação por não compreenderem suas anotações do diário.
Por fim, vale mencionar a cena da escavação na biblioteca, quando a batidas no piso estão sincronizadas às batidas do carimbo feitas pelo bibliotecário. Este ingenuamente acha que seu carimbo está com defeito. É claro que não desejamos que ninguém destrua o chão das bibliotecas. Mas pode simbolicamente escavar nos acervos por informações. Tal qual o personagem Indiana Jones, será preciso inteligência, humor e muito heroísmo para recuperar e salvaguardar o conhecimento, nesses tempos difíceis.
Que a busca sagrada se inicie!
Fonte da imagem: <https://www.flickr.com/photos/evarinaldiphotography/7979438408>.
Comentários
Postar um comentário