NOTÍCIA FICCIONAL


por Lucas Barros Cardinale, 73

 

 

Menina causa alvoroço em colégio

  

Menina negra começou a estudar em colégio para brancos

 



Escola tradicional para brancos — Harmonia

 

Menina negra ganhou bolsa de estudo e começou a estudar no colégio Harmonia, o que causou grande alvoroço, pois em cem anos de tradição, ninguém como ela jamais frequentara tal instituição, pelo menos, não como aluna.

O fato chamou a atenção de toda a comunidade entre alunos, pais e alguns professores que ficaram espantados. Em seguida, vieram os risinhos debochados, as brincadeiras sem graça, a implicância.

A aluna que se chama Vânia tem cabelos crespos, presos em um monte de trancinhas, seus lábios são grossos e vermelhos, nariz largo, olhos grandes e brancos, uma típica afro-decendente.

Diante da repercussão do caso que demonstra mais uma vez o racismo no Brasil, e levando em consideração o racismo no mundo, como foi o caso de George Floyd, homem negro asfixiado por policiais nos Estados Unidos, tais fatos mostram nitidamente uma ideia de inferioridade em relação à posição étnica.

No Brasil, ao todo, mais de 5 milhões de negros africanos cruzaram forçosamente o Oceano Atlântico entre 1500 e 1866, em navios negreiros por meio das diásporas que são as transferências forçadas de uma população de um local para outro.

Júlio Emílio Braz, autor do livro Pretinha Eu? Desabafa em entrevista:

- Eu só fui descobrir que era negro aos vinte e poucos anos. Parece brincadeira, mas não é. Também não é exagero. Até então, ainda que branco definitivamente eu não era, mesmo porque minha escolha pelo curso de História na faculdade tinha tudo a ver com o meu inconformismo com relação ao papel destinado ao negro nos livros de História de minha infância e minha adolescência, eu não aceitava nem a palavra nem a minha própria negritude. Soava estranho. Soava forte. Eu vivia confortavelmente instalado dentro de palavras falsamente carinhosas do tipo "moreno" e "mulato".

Vânia, a primeira aluna afro-decendente do colégio Harmonia se defende do preconceito diariamente. Ela sabe muito bem o que quer e até quando a brincadeira começa a passar dos limites, continua andando, olhando para frente, como se nem fosse com ela.

 


 

Fontes das imagens: Lucas Barros Cardinale.

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