SÃO SEMPRE MULHERES: O PESO DO ESTUPRO


SÃO SEMPRE MULHERES: O PESO DO ESTUPRO

por Íris Dantas (T. 92)

Nós já sabemos que a ofensa sexual é um problema recorrente e que afeta, majoritariamente, as mulheres. Mas qual é o motivo disso? Por que são sempre mulheres? Será que um único estupro pode impactar toda a população feminina?

No livro A Criação do Patriarcado, de Gerda Lerner, a autora explica que as capacidades sexuais e reprodutivas da mulher foram transformadas em mercadoria antes mesmo da criação da civilização ocidental. Como os seres do sexo feminino possuíam a grandiosa capacidade de gerar vida e perpetuar a espécie – além de que um único homem poderia engravidar inúmeras mulheres – os machos humanos logo perceberam que, por meio do controle do sexo oposto, seria possível controlar diversos aspectos da humanidade: comércio e trocas, relações e alianças, produção e trabalho.

Sendo assim, podemos concluir que a opressão feminina é baseada em sexo. Personalidade, preferências e noções morais são invisíveis para o patriarcado. Até mesmo a tal identidade de gênero é irrelevante, uma vez que uma fêmea não deixa de ser fêmea porque se identifica com o sexo masculino. Basta nascer com uma vagina para sofrer misoginia e ser condenada a diferentes formas de violência praticada por homens.

O estupro é uma delas e é a coisa mais humilhante pela qual uma pessoa pode passar. Não é preciso pesquisar muito para logo ver que as mulheres são as principais vítimas, configurando o ato como um crime masculino. Sempre que um caso de violência sexual é noticiado, mulheres e garotas ficam aterrorizadas e lembram-se de sua posição na sociedade. O sexo feminino é visto como um recurso sempre à disposição dos homens, e o estupro é uma ferramenta para afirmar poder e dominância. Isso nos leva ao segundo ponto deste texto: estupro é um crime de ódio e deve ser tratado como tal, já que é direcionado a todo um grupo para inferiorizá-lo e deixá-lo inseguro, apesar daqueles que cometem muitas vezes não serem punidos como deveriam (ou simplesmente não receberem punição).

Por fim, faço um apelo para que as mulheres não se calem e resistam. Estamos em tempos difíceis, mas manter-se em silêncio não vai ajudar. Unam-se, projetem-se, busquem orientar aquela que está próxima de você. Homens, a sua companheira é um ser humano, não sua subordinada. Pouco a pouco, destruiremos todas as bases da sociedade que nos colocam em posição de máquinas, de incubadoras, de falhas e de escravas, mesmo que para isso seja necessário reformular toda a sociedade. Há esperança de um futuro em que sairemos de nossas casas com segurança. Eles nunca gostaram de mulheres que não ficam caladas, mas são justamente essas que moverão o mundo.

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