O SILENCIO DE MATIAS, de Marina Colasanti
O SILENCIO DE MATIAS
Marina Colasanti
O ar era pesado e quente. A luz era cinzenta e fria. Chegava do Sul um vento carregado de poeira, lapili e flores de laranjeira. Em algum lugar entre floradas um vulcão ardia.
Assim foi o dia em que o cego Matias levantou-se de um salto, e tombou para trás enrijecido, azuladas as mãos, brancos os lábios, os olhos revirados.
Durante doze dias Mateus jazeu deitado. O peito parado, um filete de baba escorrendo da boca.
Ao décimo terceiro levantou-se. Por trás das pálpebras fechadas havia visto a verdade, a razão de ser do mundo.
Nunca disse nada a ninguém. Pois com as imagens, a ele que cego nunca havia visto outras, não lhe haviam sido dadas as palavras com que poderia contá-las.
Fonte do texto: <https://www.marinacolasanti.com/2016/07/cronica-de-quinta-6-contos.html#post-page-full>.
Fonte da imagem: <https://pixabay.com/pt/photos/flor-rosa-ad%C3%AAnio-flor-do-deserto-838838/>.
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