SER MULHER

 


Por Mariana da Costa Cardoso Signori Salvador, turma 73 (2021).

 

Me chamo Mariana e vou entrevistar a Isabel Cristina da Costa. Escolhi a Isabel para entrevistar, pois ela é minha mãe e me ensinou tudo que sei sobre o assunto do texto, “a mulher na sociedade”. Ela é professora da UERJ e tem 3 filhos. No texto, “P” significa a minha pergunta, e “R” significa a resposta dela.

 

P: Seu marido te ajuda nas tarefas da casa: cozinhar, limpar etc.?

R: Mariana, a participação dos homens, nas tarefas domésticas na casa, ainda é considerada por eles e isso inclui meu marido, como ajuda e não corresponsabilidades nessas tarefas, que devem ser de todos que moram na casa. Então, minha resposta é sim, ele ajuda. E não, ainda temos que continuar juntos uma relação não machista do trabalho reprodutivo. Essa é uma tarefa para a vida.

P- Quando você sai para um lugar que tem muitos homens, você se sente desconfortável?

R: Isso vai depender do lugar, de que homens são esses e também do que o meu corpo representa socialmente. As mulheres estão mais expostas, pela cultura de violência machista, a vários tipos de situações constrangedoras e de violação. Eu sou uma mulher branca de classe média que anda mais de transporte particular do que público, professora universitária, moradora de um bairro de classe média, com ruas iluminadas e comércio local perto da minha casa. Isso para dizer apenas algumas características. Mas essa descrição, já é suficiente para saber que não vou ser “esculachada”, por exemplo, por homens policiais no bairro onde eu moro, o Grajaú. Já não é a realidade de muitas mulheres negras em sua maioria, moradoras de favelas e periferias. Então, você entende que existem outras condições como as de raça, classe social, condições de moradia, que explicam por que eu me sinto menos exposta e desconfortável no bairro em que vivo?

P: Você já teve os direitos violados por ser mulher?

R: Sim, e vou te falar só de uma situaçã, porque acho bem representativa de uma situação pouco falada que é da violência institucional e que se chama violência obstétrica. Só soube que se tratava de uma prática de violência institucional contra a saúde e o corpo da mulher, quando escutei pela primeira vez uma equipe e estagiários do hospital Pedro Ernesto explicando o significado de violência obstétrica. Vou te dizer o que é essa forma de violência a partir de um material educativo da secretaria municipal de políticas e promoção da mulher e vou deixá-lo com você. Violência obstétrica “é a violência que acontece no momento da gestação, parto, nascimento, pós-parto, inclusive no atendimento ao abortamento.”. E nesse mesmo folheto são dados alguns exemplos, como “negar a presença de acompanhante, lavagem intestinal e restrição de dieta; ameaças, gritos, chacotas, piadas, etc; não receber alívio da dor.”. Infelizmente, no meu primeiro parto, sem reconhecer, sofri cada uma dessas situações.

P: Já foi desrespeitada no seu trabalho? Como?

R: Sim, em um evento acadêmico quando estava expondo meu trabalho oralmente e fui interrompida de forma grosseira, em voz alta por um homem também participante do evento, conhecido na academia, dizendo que eu tinha ultrapassado o tempo permitido para minha exposição. Minha reação de questionamento foi imediata, gerando um pedido formal de desculpas pela coordenação do grupo de trabalho do qual estava participando. Mas, sem dúvida, essa foi uma atitude machista.

P: Você já desejou algo, mas não conseguiu por ser mulher? Se sim, o quê?

R: Sim. Meus pais eram portugueses e bem tradicionais em  relação aos papéis de uma mulher. Quando adolescente quis ter muita mais liberdade do que meus pais me deram, o que me fez mentir muito.

P: Como você costuma lutar para defender os direitos das mulheres?

R: Não participo de movimentos ou organização feministas. Mas sou trabalhadora da educação sindicalizada há 31 anos, desde quando entrei na UERJ, e acredito contribuir para não descriminação sexista. Contudo essa é uma luta que ainda precisa ganhar maior espaço e poder no interior da luta sindical, porque as condições desiguais do trabalho reprodutivo entre homens e mulheres também afeta desigualmente o trabalho de professoras e professores.

 

 

Fonte da imagem: <> https://pixabay.com/pt/photos/escritório-o-negócio-contador-620822/


 

 

 

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