O CRIME MAIS QUE AMBIENTAL
O ativista Jorge Nascimento havia sido assassinado brutalmente no escritório de sua fábrica de reciclagem durante aquela madrugada.
- Pelo visto teve luta corporal. As pastas e as canetas todas espalhadas pela sala, cortina amassada, café entornado, hematomas pelo corpo da vítima. O negócio foi feio.
– Diz Santos.
- Deu pra perceber, vou encaminhar o corpo para a autópsia e pedir que comecem a perícia. – avisou o inspetor.
Antes que os peritos chegassem, Roberto percebeu que, além do escritório estar bagunçado, ele também estava revirado, ou seja, o assassino estava procurando algo. O que poderia ser?
No dia seguinte, Marcelo, o parceiro de Santos, levou a relação de todas as pessoas que estiveram com o ativista antes da tragédia. Todos eles foram convocados para depor e fazer coleta de DNA.
A primeira foi Júlia, braço direito de Jorge. Ela disse que ele convocou uma reunião com as pessoas mais confiáveis, pois o assunto se tratava de algo sério e perigoso, por isso precisava de sigilo. Ela também contou que foi a primeira a ir embora.
O segundo foi seu João, o guarda noturno da fábrica:
- Confesso que acabei adormecendo e não vi ninguém indo embora. Quando despertei, entrei para ver se todos já tinham ido e me deparei com aquela cena horrível, foi aí que liguei para a polícia. - Disse o guarda.
O terceiro foi Cleber, que estava com um corte recente no antebraço. Era o mais novo integrante no ramo da reciclagem, mas que tinha pegado intimidade muito rápido com as pessoas.
- Fui o último a sair. O Jorge fez um cafezinho para nós dois e fui pra casa poucos minutos depois do Hugo. Não estranhei nada. - disse o rapaz.
O quarto foi Hugo, que já sabia o que seria contado na reunião, pois ele e o ativista descobriram juntos a notícia.
- Era sobre a empresa daquele maldito Tadeu Cavalcante, Petro Tec, eles estão vazando produtos químicos em rios, que abastecem cidades pequenas do interior, deixando as populações doentes e estão maquiando os dados para não serem descobertos.
- E esse Tadeu tinha alguma briga com a turma de vocês?
- O “homem poderoso” não suporta nossa luta por pautas ambientais, ele nos odeia, já causamos bastante prejuízo. Por isso, havia só pessoas confiáveis na reunião, se alguém descobrisse que a notícia havia vazado, as consequências poderiam ser fatais. Tanto é que para deixar tudo seguro, o Jorge guardou todos os dados no seu computador. O Tadeu é perigoso.
- Hugo, me responde mais uma coisa, que horas você foi embora?
- Por volta de 01:30. Tinha compromisso alguns amigos, uma balada famosinha aqui na cidade.
Assim se encerrou o diálogo entre Roberto e Hugo.
O detetive logo descartou Julia e Hugo como suspeitos, pois o jovem não possuía porte físico para fazer aquele estrago e estava comprovado que Hugo foi na balada, através dos registros em sua rede social naquela noite.
Estava claro que o assassino procurava era o computador, que pelo visto tinha conseguido, já que o eletrônico não estava na cena do crime, nem pelo resto da fábrica. O resultado da autópsia saiu e foi descoberto que a vítima morreu por asfixia po volta das 4 horas da manhã. O que restava agora, era chamar o tal Tadeu.
Marcelo, como ótimo ajudante, estudou sua ficha criminal envolvendo o nome do “homem poderoso”, chegando à conclusão de que Tadeu não sujava as mãos, sempre eram capangas agindo por ele, assim mantendo sua ficha limpa.
Na hora do interrogatório, Tadeu aparentou odiar Jorge e não cooperava com a investigação.
- Você possuía infiltrados para monitorar os passos de Nascimento? – perguntou
Roberto.
- Claro que não, qualquer pessoa conseguiria saber as jogadas desse homem, ele confia em todo mundo. – disse Tadeu com deboche.
- Mas você ficou sabendo de algo recentemente? Sobre vazamentos de informações? - Pressionou o detetive.
- Eu? Não sei de nada, só sei o que todos sabem né, sobre essa tal reunião – respondeu o homem todo nervoso tropeçando nas palavras.
Foi aí que Roberto juntou as peças. Tadeu falou demais e se enrolou, o detetive só precisava de uma coisa, o teste de DNA do café derramado no chão. Que por sorte não era o café do Jorge. Depois do resultado, o detetive deu voz de prisão em Cleber.
- Você não pode fazer isso, me tira daqui, cadê as provas?! – grita o rapaz revoltado.
- Por que mentiu sobre ir embora mais cedo, se você é “inocente”, meu caro
amigo? - Rebate Santos.
- O que você está falando? – falou “não” entendendo a pergunta.
- Como você teria tomado café perto da 01:30 da manhã e quando nós chegamos depois de horas, o café ainda estava morno derramado no chão? Vocês entraram em luta corporal, Jorge pra se defender tacou uma das canecas contra você, isso explica o corte no braço e o líquido no chão, que estava com sua saliva por sinal. Se os dois tiveram um desentendimento e brigaram, tudo bem, mas pra que sumir com as provas que constavam que você esteve na cena do crime se o assassino não é a sua pessoa? - disparou Roberto.
O suspeito não soube responder e ficou totalmente calado.
- Por que matá-lo? O que tinha de tão importante naquele computador, além dos dados da Petro Tec? Você não queria que Jorge soubesse sobre o vazamento? – perguntou o detetive.
- Eu não sei de computador nenhum, não matei ninguém. Na real, quem não queria que Jorge soubesse era o Tadeu Cavalcante – Disse com uma expressão de quem falou o que não podia.
O detetive encerrou o interrogatório e constatou sua teoria. Cleber trabalhava para Tadeu, para provar isso, era necessário uma busca e apreensão na casa do “homem poderoso”.
Dito e feito, chegando lá, a polícia encontrou o computador do ativista no cofre do quarto principal. Tadeu foi preso.
- Vocês não sabem com quem estão se metendo, não há provas que matei esse “cara” aí. – Esbravejou o ricaço.
- De fato você não matou, mas foi mandante do crime. – Afirmou o detetive.
- Ficou maluco? - Exclamou Tadeu.
- Abaixa a bola garotão. O Cleber era o seu infiltrado. Como o “cérebro” da organização morre logo após de contar algo que comprometeria sua empresa, e o computador que possuía todas as informações aparece na sua casa? - Diz Roberto um pouco irritado.
- Não sei, aquilo foi armado. – Afirmou o criminoso.
- Armado? A única pessoa que tem a senha do cofre é você – Disse Santos.
- Cleber burro, sabia que não podia confiar.
- Você acabou de admitir indiretamente. Cleber não tinha motivos para matar Jorge, tanto é que computador nem estava com ele, só algo maior poderia motivá-lo a matar alguém, algo que poderia ser o seu dinheiro. Sem contar no seu medo de perder a Petro Tec, precisa de olhos em tudo que pode te ameaçar.
Esses olhos eram Cleber, que te contou tudo sobre a reunião, mas ninguém além dos três e da polícia sabia disso, nem mesmo seu João, então por que você saberia?
Nisso, Cleber roubou o computador e matou Jorge por comando seu, para o disfarce e nem o esquema serem descobertos – Explicou Roberto
Os dois admitiram o crime e suas sentenças foram dadas. A justiça foi feita e a dupla de detetives foi aclamada pela empresa.
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